São Sebastião - Fim após 119 anos

O Hospital de São Sebastião foi inaugurado aos 09 dias do mês de novembro de 1889 por SMI D. Pedro II, seis dias depois foi extinta a monarquia no Brasil. Assim nasceu o São Sebastião. Nos seus primórdios foi considerado um hospital de ponta, preparado para atender as doenças mais temidas pela população como a febre amarela. Este nosocômio foi criado para isso, socorrer a população em épocas de epidemia. Sua proximidade com a zona portuária e por distanciar-se do centro da capital tornaram a Quinta do Caju o local ideal para edificação deste nobre propósito.
O terreno foi adquirido pelo governo em um leilão de uma antiga propriedade (a sede desta permanece na entrada do terreno). Lá foram construídos os pavilhões com modernas técnicas de exaustão e isolamento tendo em vista os conceitos difundidos à época. A inauguração deste hospital talvez tenha sido a medida mais inovadora do então governo de D. Pedro II.
No decorrer dos anos e apesar da modernização das técnicas diagnósticas o Hospital do Caju permaneceu lá, impassível, vendo seu entorno se deteriorar com a edificação de portos em soterros criminosos e com a invasão de suas entranhas por casebres insalubres. Depois de 119 anos o que sobrou? Somente a eterna esperança de uma potencialidade nunca alcançada. O mundo mudou a medicina se tornou multidisciplinar e multiprofissional, e o São Sebastião continuou com sua aspiração infectológica.
Poucas instituições no Brasil sobrevivem por tanto tempo, e hoje estamos testemunhando o fechamento de uma com 119 anos. É muito triste ver isto acontecer, há um lado emocional muito forte. Desde que estava na graduação desejava trabalhar no São Sebastião, entrei na residência médica por que era no São Sebastião e o meu primeiro emprego formal foi lá. Amadureci muito naqueles pavilhões, aprendi muito. Tenho uma dívida impagável para com aquela instituição.
Estamos entrando numa era de sombras para o Rio de Janeiro, as instituições estão se fragmentando pouco a pouco. Estamos vivendo um declínio gradual, não há mais invasões de fora, os inimigos estão intramuros. Gradualmente vamos perder a nossa identidade e nossas perpectivas. Talvez o fim do IEISS seja um marco de algo inexorável. Já se ouve o soar distante de trombetas de um exército sinistro e autofágico.

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